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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ENTREVISTA REALIZADA COM UMA PROFESSORA DE DEFICIENTES VISUAIS


PERFIL DA PROFESSORA:

Nome:
Neiva Inês Schaefer Gutjaler
Formação:
· Pedagogia da Educação Especial – UNIJUI
· Especialização na área da Deficiência Visual – UNIJUI
· Capacitação em Orientação e Mobilidade – MEC/SE-RS
Experiência Profissional:
6 anos de atuação em Sala de Recursos para Deficientes Visuais
Atuação:
Professora na E.E.E.M. Senador Alberto Pasqualini, em Santo Augusto – RS, com 8 crianças cegas e 5 crianças com baixa visão (que variam de 5 a 18 anos).




1- Qual a maior dificuldade em alfabetizar crianças com Deficiência Visual?
A criança com perda visual severa pode apresentar ainda atraso no desenvolvimento global. Isto se deve em grande parte à dificuldade de interação, apreensão, exploração e domínio do meio físico.
Essas experiências significativas são responsáveis pela decodificação e interpretação do mundo pelas vias sensoriais remanescentes (táteis, auditivas, olfativas, gustativas). A falta dessas experiências pode prejudicar a compreensão das relações espaciais, temporais e aquisição de conceitos necessários ao processo de alfabetização.
O sucesso escolar da criança vai depender de uma série de fatores, independentemente da idade em que comece a freqüentar a escola e do tipo de programa no qual esteja matriculada.

2- Qual é a diferença entre cegueira e baixa visão?
Baixa visão: é a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou assiciados taiscomo: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes que interferem ou limitam o desempenho visual do indivíduo.
Cegueira: é a perda total da visão até a ausência de projeção de luz.


3- O processo de construção de aprendizagem da leitura e da escrita, em comparação às crianças sem DV, é diferente. De que forma isso é feito?
Acredito que a grande diferença que existe entre a aquisição da aprendizagem da leitura e da escrita de uma criança DV e uma vidente, está no seguinte:
antes de aprender como se escreve e como se lê, a criança vidente tem algumas idéias sobre leitura. Ela tem contato com a escrita na rua, na televisão, nos jornais e em muitos outros lugares. Vê pessoas lendo e escrevendo e pensa sobre isso. A criança vidente incorpora assistematicamente hábitos de leitura e escrita desde muito cedo. No entanto, a criança cega demora muito tempo a entrar no universo do ler escrever. O sistema Braille não faz parte do dia-a-dia, como um objeto socialmente estabelecido, porque somente os cegos se utilizam dele. A descoberta das propriedades e funções da escrita tornam-se impraticáveis para esta criança, caso não tenha acesso a essa comunicação alternativa.

4- Qual a bagagem de conhecimento, em relação à escrita, essas pessoas trazem para a escola?
Infelizmente a grande maioria das crianças cegas só tomam contato com a escrita e a leitura no período escolar. Esse impedimento, sabe-se, pode trazer prejuízos e atrasos no processo de alfabetização.

5- Que metodologia você acredita ser mais apropriada para iniciar o processo de alfabetização de cegos?
A aprendizagem das técnicas de leitura e escrita no sistema Braille, dependem do desenvolvimento simbólico, conceitual, psicomotor e emocional da criança. Essa evolução satisfatória nem sempre se dá de forma espontânea para a criança cega. Daí a necessidade de prestar especial atenção às habilidades e necessidades do aluno cego antes de decidir o momento de ensinar o ensino da simbologia.
Gostaria de mencionar, de forma bem suscinta, os fatores que interferem na aprendizagem da leitura e da escrita Braille:
- organização espaço-temporal;
- interiorização do esquema corporal;
- independência funcional dos membros superiores;
- destreza manual;
- coordenação bimanual;
- independência digital;
- desenvolvimento da sensibilidade tátil;
- vocabulário adequado a idade;
- pronúncia correta (diferenciação de fonemas similares);
- compreensão verbal;
- descriminação auditiva;
- motivação ante a aprendizagem;
- nível geral de maturação.
Quanto ao método utilizado para alfabetizar dadas as particularidades do ensino do sistema Braille creio que o professor pode fazer sua opção, conforme o estilo “perceptivo do aluno”. Levando em consideração os fatores mencionados anteriormente, entre outros.
O método fonético ou sintético tem por objetivo básico ensinar ao aluno o código ao qual os sons são convertidos em letras ou grafemas ou vice-versa, separando inicialmente a leitura e o significado. Decifrar o sistema Braille é uma decodificação de natureza perceptivo-tátil e não garante aprendizagem conceitual e interpretação necessária ao processo de leitura.
Já o método silábico ou alfabético, as sílabas são combinadas para formar palavras. Em geral, quando se ensina por esse método, inicia-se por um treino auditivo, por meio do qual o aluno é levado a perceber que as palavras são formadas por sílabas ou por grupos consonantais. A partir daí o aluno assimila a forma gráfica da sílaba a qual atribui o devido som. Nesse método apresenta-se inicialmente a família silábica, em seguida, palavras, frases e textos.
Para ambos os métodos deve-se propor conteúdos significativos adequados à idade, visto que a leitura, como instrumento de comunicação e de informação, será mais tarde estimulante e motivadora por si mesma.
Durante o período de alfabetização, o aluno focaliza mais sua atenção na interpretação dos significados e nos aspectos formais da mensagem escrita. Por isso, durante essa primeira etapa as palavras e as frases que se apresentam têm de ser curtas e carregadas de um conteúdo emocional que suponha um reforço imediato ao esforço realizado. As mensagens devem apresentar-se com palavras que já tenham sido trabalhadas oralmente pelo aluno e com estruturas lingüísticas familiares para ele.
Em relação a seqüência de apresentação das letras, deve-se levar em consideração as dificuldades específicas do sistema Braille, a semelhança de símbolos, a reversibilidade, assimetria, dificuldades de percepção de cada fonema.
Alguns alunos podem mesmo não aprender a ler e escrever. Isso é possível nos casos de alunos que possuem deficiências associadas a DV. Outros podem adquirir com mais lentidão a habilidade de leitura (que será desenvolvida com a prática) e escrita.
Educar uma criança cega não é uma missão fácil. O profissional que pretende entrar neste campo de ensino, precisará saber que a criança cega ou baixa visão, é um ser que se desenvolve, que constrói, que aprende. Mas, ela apresenta necessidades específicas que reclamam um atendimento especializado e basicamente dirigido a essas especialidades. Seu crescimento efetivo dependerá exclusivamente das oportunidades que lhe forem dadas, da forma pela qual a sociedade a vê, da maneira como ela própria se aceita.
Portanto, não há uma receita pronta e infalível para educar uma criança cega. O professor tem de conhecer o aluno que tem diante de si o sobre o qual recai sua atenção a ação pedagógica. No preparo e na coerência da prática docente pode-se encontrar soluções para grandes problemas.


6- Que recursos didático-pedagógicos são utilizados neste processo?
Os recursos que são indispensáveis no processo ensino-aprendizagem do aluno cego ou de baixa visão, são os seguintes: regletes, punção, células Braille, sorobã, máquina de escrever em Braille, material impresso em Braille, gravador, bengala, bola com guizo, tronco humano desmontável, lupas, mapas em relevo,... além de outros materiais que são os mesmos utilizados com crianças videntes, só que adaptados.

7- Que materiais impressos circulam no meio em que vivem estas crianças? Que acesso elas têm a esse material?
Jornais revistas..., material em Braille, somente o que a escola fornecer.

8- Como você vê a inserção destes alunos numa sociedade dita "letrada"?
Eu acredito que entre uma criança considerada normal e uma criança cega não exista uma diferença essencial. O que as diferencia, consiste somente no caminho que desenvolve o seu desenvolvimento. Portanto, o importante não é que o cego veja as letras, o importante é que as saiba ler. O importante não é que o cego leia e escreva exatamente do mesmo modo que nós (videntes) e que aprenda isto igual a nós, o que importa é que ele saiba fazer isto.
Ler com a vista ou com os dedos, em essencia é a mesma coisa! Claro que educacionalmente é distinto e requer um sistema diferenciado.

9- Qual a contribuição da linguagem Braille para pessoas cegas?
Precisamente a linguagem braille e a comunicação com os videntes se constituem o meio fundamental de compensação do cego. Deixado a sua própria sorte, encerrado no âmbito de sua própria experiência, excluído da experiência social, o cego se desenvolve como um ser totalmente peculiar profundamente distinto do homen considerado normal e sem adaptação alguma da vida e do mundo dos videntes. Supõe-se que no caso de uma comunicação exclusiva entre cegos, sem intervenção nenhuma dos videntes, poderia nascer uma categoria especial de pessoas.
A palavra vence a cegueira. Por isso, o objetivo fundamental da educação do cego não consiste em desenvolver, refor~çar ao máximo os outros sentidos, não reside na compensação orgânica direta da visão ausente. Consiste em incorporar a criança cega através da linguagem, a experiências social dos videntes.

10- Sabemos que a legislação brasileira ampara os portadores de necessidades especiais para a sua inclusão em todas instâncias sociais. Entretanto, entre o real e o ideal há uma distância. Como você vê a preparação dos educadores e do mercado de trabalho para a efetivação desta inclusão?
A dificuldade de colocação profissional vem sendo enfrentada por uma parcela significativa de brasileiros, e com relação ao deficiente visual ela é agravada, pela infundada crença de que a cegueira afeta todas as funções do indivíduo e que são restritas as atividades possíveis de ser realizadas pela pessoa cega ou de visão reduzida. O receio dos problemas de interação com o grupo de trabalho, da ocorrência de acidentes e o custo de adequações e aquisição de equipamentos especiais é, certamente, outro fator de impedimento de acesso da pessoa cega ao mercado de trabalho.
Quanto aos profissionais da educação, penso ser de fundamental importância investir na “formação”, pois a educação inclusiva conduz a necessidade do professor saber respeitar e conviver com as diferenças, buscando estratégias que viabilizem seu trabalho no e para a diversidade, estando e sentindo-se preparado para adaptar-se às novas situações que poderão surgir no interior da sala de aula. Acredito também que esta formação auxiliará no sentido de ajudar a desmistificar conceitos e preconceitos que temos em relação PNEE.

fonte: http://proavirtualg28.pbworks.com/w/page/18670719/ESTRAT%C3%89GIAS%20DO%20ENSINO%20DE%20ALFABETIZA%C3%87%C3%83O

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