Aprender em Grupo
Teberosky (1987) afirma que a escola tem considerado fundamentalmente
a escrita como atividade individual, do sujeito para si mesmo, esquecendo-se de
que ela é o resultado de um esforço coletivo da humanidade, e que tem uma
função social. O modo com a criança aprende a escrever segue o caminho da
apropriação individual de um fenômeno social; porém considerar individual essa
apropriação não implica reduzir sua aprendizagem a uma atividade isolada. Ao
contrário, consideramos que a situação grupal de uma sala de aula é uma
situação privilegiada cujas vantagens devemos aproveitar.
Para tornar isso possível, é necessário garantir que no grupo os níveis de
conceituação de escrita sejam pelo menos próximos. Caso contrário se repetirá a
típica situação escolar na qual aqueles que sabem muito mais sempre dão as
respostas, forçando que os demais se mantenham passivos.
Nos intercâmbios entre crianças, se compartilham informações sobre os
aspectos físicos e sociais do objeto escrito. É interessante assinalar, contudo, que
elas também compartilham e utilizam as hipóteses construídas por elas mesmas,
ou seja, por seus próprios conceitos. A socialização de conhecimentos pode se
dar entre a criança e o adulto, mas o compartilhamento das hipóteses subjacentes
à construção desses conhecimentos só se dá entre quem se elabora
contemporaneamente. Essa é uma das grandes vantagens da interação entre
pares. Pois bem, a informação pode ser mais ou menos “assimilável” em função
das estruturas de assimilação dos sujeitos que compõem o grupo; a freqüência de
aparição de alguns tipos de informações depende, também, do nível conceitual
dos membros participantes.
O que solicita informação espera uma resposta, porém nem sempre esta
está “ao seu nível”. Ela deve ser interpretada. Os intercâmbios facilitam a
socialização de informação e a criação de conflitos entre a informação provida e
as formas de assimilá-la. Trata-se, então, de encarar as interações como contexto
possível de aquisição, mais do que de analisar “erros” ou “acertos”.
Os conhecimentos que as crianças adquirem em situação de interação não
são transmitidos de um ao outro, mas construídos “entre eles mesmos”. Não há
alguém que possua o saber para ensiná-lo, todos estão aprendendo. Ainda que
haja diferença de níveis nos conhecimentos, e apesar das desigualdades, todos
podem perguntar e todos podem informar. A situação social mais natural é a que
implica imitar, comentar, informar, criticar ou discutir o que se está fazendo. Ela
não só é natural nos momentos de jogo livre, mas também pode sê-lo em
situações de produção mais reflexiva.
AROEIRA, Maria L.C.; SOARES, M.I.B.; MENDES, Rosa E.A. Didática de Préescolar:
vida criança brincar e aprender. São Paulo: FTD, 1996.
Fonte: Unopar Virtual
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