Facetas
da inclusão
Ou
Mentiras adaptadas
As Leis de diretrizes e bases da educação nacional
pedem que a criança especial seja matriculada preferencialmente nas escolas
regulares, mas pede tambem que a escola seja acolhedora à esta criança,
possibiltanto seu acesso e pleno desenvolvimento além de criminalizar as
escolas que se recusam a receber a matricula dessas crianças. Até então vemos
uma ação que poderia ser chamada de nobre, mas quando vamos observar a
ocorrencia da inclusão escolar vemos que ainda não estamos tão longes das
trevas da exclusão.
Tendo observado a infra-estrutura da escola em que
trabalho eu me pus a pensar no que estas crianças passam e como isso prejudica
ainda mais suas relações e seu bem-estar emocional. Para levar meu aluno
cadeirante ao refeitorio tenho de passar por dois portoes que sempre ficam
trancados, alem desses portões trazerem uma imagem de prisão a escola, tudo parece
longe para o aluno que reclama do trabalho que tem para se deslocar. Seu
banheiro, que tambem esta sempre trancado fica depois de uma sala que traz em
seu interior armarios aparentemente em desuso, dentro de seu banheiro alguns
objetos estão guardados. Quando olhamos para esse banheiro, separado de tudo,
acessivel apenas atraves desse quartinho quente e cheio de objetos temos a visão de que a
criança especial é como esses objetos: algo a ser escondido num quartinho
quente e cheio de objetos velhos. A imagem de escola acolhedora perde seu
carater de fraterno e ganha a obscura visão que deixa de lado o diferente e o
separa como objeto sem merito.
Seria talvez menos tocante, se apenas eu como educador
me incomodasse com a situação, porem vinda as reclamações do proprio aluno
conseguimos entender um pouco mais os motivos da indignação. Meu aluno reclama,
com os olhos distantes, que o acompanhante de seu irmão no ano anterior o
abandonara e não foi colocada outra pessoa em seu lugar. Ele teme que eu venha
a deixa-lo, mas lhe assegurei de que jamais o farei. O menino sorri, pensa, tem
suas vontade, é uma criança inteligente e muito capaz, mas precisa de apoio (não
apenas um professor de apoio, mas de amigos, de pessoas que lhe ouçam), não é
incomum chegarem para mim e perguntarem o nome dele, eu peço que perguntem
diretamente pra ele (porque ele é um menino como qualquer outro, não tem porque
tirar dele o direito de responder as perguntas que dizem respeito a ele).
O que é incluir então? Certamente apenas colocar o
aluno em classe não é inclui-lo. Muitas outras crianças em suas diferentes especificidades
acabam ficando jogadas pela sala, escola, não recebem apoio seja do pedagogico
ou afetivo. Neglicenciar as necessidades da criança sim, na minha concepção é
um crime imenso, tão grande quanto negar a ela o ingresso na escola. A palavra “separar”
vem sendo usada erroneamente na inclusão (separar o banheiro do aluno, dando a
ele um espaço afastado e visualmente desagradavel), dar uma atividade
diferenciada para o aluno mas sem conteudo nenhum, dar um interprete de Libras
para o aluno surdo que ainda não aprendeu os sinais (não há função em
interpretar se o aluno ainda não sabe o que os sinais querem dizer). Em alguns
momentos podemos ver com certo assombro que os mais pertos de serem incluidos
são os que tem condições financeiras melhores, o que tiraria o careter de
direito da educação tornando-a um privilegio de poucos. Embora seja inegavel
que em qualquer aspecto, indiferente de se a criança é especial ou não, as que
possuem um elevado nivel social recebem inumeros privilegios.
“Eu queria estar numa escola em que não me sentisse na
cadeia. Não cometi nenhum crime! Queria ir a um banheiro que não me fizesse
sentir um objeto” (Lucius)
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